Era uma bela manhã de domingo. O sol de
final de outono dourava as árvores de folhas alaranjadas, enquanto o vento
frio anunciava um inverno rigoroso. Estamos em meados dos anos
60, numa grande cidade da Escócia.
A pequena igreja evangélica estava lotada, e os
fiéis entoavam hinos de louvor.
Findo o culto, o pastor dirigiu-se à entrada da
igreja, onde ficou, como sempre, a esperar pela saída dos crentes, para
cumprimentar e ser cumprimentado. Após um momento final de contrição,
lentamente, eles se levantaram e foram saindo.
A maioria deles conhecia o pastor há muitos
anos, de modo que entre as saudações afetuosas havia sempre muito assunto,
muitas perguntas, convites, recomendações.
Ninguém notou que, dentro da igrejinha, uma mulher permaneceu sentada, no último
banco, próximo ao local onde o pastor e suas ovelhas se confraternizavam,
com os corações reconfortados.
Ao final dos cumprimentos, ela se levantou
rapidamente e dirigiu-se ao pastor, exaltadamente, não para elogiar o sermão,
não para afagar e ser afagada, mas para trazer seu mundo emocional
conturbado, para falar de suas dores, de sua ansiedade, de sua vida
errada, de sua ausência de paz!
Os fiéis ainda aglomerados na frente da igreja,
conversando animadamente entre si, pararam um pouco e prestaram atenção à
insólita cena. Eles sabiam: era Mary Brown, uma mulher ainda jovem, mas muito
maltratada, pobre e ignorante, que trabalhava como empregada doméstica.
Alguns ficaram um pouco incomodados. Não é que
eles a condenassem, alguns até a ajudavam, davam roupas usadas, generosamente
contratavam sua mão de obra. Mas sabiam que ela levava mesmo uma vida,
digamos, de escassas virtudes.
O pastor, delicadamente, ouviu as palavras de
Mary e, em seguida, disse-lhe para ler a Bíblia e fazer suas orações, que Deus
haveria de cuidar dela.
Ele esquecera que ela era analfabeta.
Mary, porém, sentiu sua voz rouca sair sem
controle, dizendo em alta voz:
- Oh, Minister! you don't understand!
I canna read! I canna pray!
Lord Jesus, take me as I am!
E chorava, chorava sem parar. O pastor sentiu
arrepiar todos os pelos de seu corpo, e, por instantes, fez-se um grande
silêncio entre os presentes. O tempo ficou suspenso.
E nesse momento, nesse intervalo, nessa lacuna,
o Espírito atuou!
As mulheres correram para Mary e a abraçaram, e
choraram junto com ela. Os homens também, até mesmo o pastor.
Para muitos, esse episódio foi uma fonte de
inspiração, de onde brotaram muitas conversões e muitos hinos bonitos. Até
hoje há aqueles que, ao saber desta história, se comovem e choram como Mary, ou
fazem músicas e poemas de louvor.
Mary mostrou que não é a nosso empenho em
uma vida limpa e virtuosa que nos aproximará do divino, é exatamente o
contrário o que precisa acontecer. Ela, sob toda restrição e
opróbrio, entregou-se a Ele do jeito que era, com toda a doença,
culpa e miséria, simplesmente clamando com todo o seu coração: "Take me as I
am".
Take me as I am, Take me as I am...
Dedico essa história real a todos os que equivocadamente, como eu, achavam
que primeiro deviam se tornar melhores, para só depois reconciliar-se com o
divino.
A inspiração para este texto veio da leitura do site:
http://www.cyberhymnal.org/htm/t/m/tmeasiam.htm
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