PREFÁCIO DO LIVRO "O EVANGELHO DE MAHARISHI"
Autor: Domingos Sande - tradutor do livro, que se encontra disponível para download pelo site:
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(04/Fev/19)

O EVANGELHO DE MAHARISHI
PREFáCIO DO TRADUTOR

Bhagavan Ramana Maharshi é considerado um dos maiores sábios de todos os tempos. Profundidade, naturalidade e simplicidade são traços de sua presença, que o leitor encontra também nas respostas por ele dadas às perguntas feitas pelos discípulos.

Ramana Maharshi viveu em corpo físico do final do século 19 a meados do século vinte. Nesse período, ocorreram as duas grandes guerras mundiais e se deu a libertação da índia do jugo inglês. Os ideais iluministas de uma sociedade ordeira e em constante progresso, baseada na ciência e na razão, soçobravam, e a humanidade atravessava mais uma grande crise.

A angústia existencial resultante de um dos principais objetivos da modernidade, o de banir a transcendência do horizonte humano, já havia encontrado, anteriormente e de diferentes formas, muitas vozes para manifestar-se, como, por exemplo, em Dostoievsky, Schopenhauer, Van Gogh e Marx, e continuava a fazê-lo, como em Kafka, Freud, Cioran e inúmeros outros indivíduos por todo o mundo.

Ramana Maharshi, com a idade de dezesseis anos, após uma experiência relacionada ao fenômeno da morte, deixou a família e se dirigiu para a sagrada montanha Arunachala, onde viveu os próximos 54 anos, os vinte e cinco primeiros morando em cavernas, e os demais em uma comunidade que se formou em torno dele, até abandonar o corpo, em 1950. Pessoas de toda a índia e de várias partes do mundo se dirigiram a Arunachala, para estarem em sua presença, em busca de paz e sabedoria.

Tornou-se conhecido no Ocidente, e mais amplamente na própria índia, após a publicação do livro “A Search in Secret India”, traduzido no Brasil como “A índia Secreta”, de Paul Brunton, um dos pseudônimos do jornalista e escritor inglês Raphael Hurst. O escritor Somerset Maugham o retratou como Sri Ganesha no livro “O Fio da Navalha”, em que o personagem Larry, em contraste com a banalidade cotidiana e rejeitando a vida convencional, encontrando-se traumatizado com as experiências que viveu na primeira grande guerra, viaja para a índia em busca do verdadeiro significado da vida.

O sábio instrui os buscadores, fundamentalmente, a realizarem uma investigação, por si mesmos e em si mesmos, com a finalidade de despertarem para a sua verdadeira natureza, que é infinita, e que se encontra, por assim dizer, encoberta por um véu de imagens, conceitos e representações acerca de si próprios e do mundo. Suas palavras apontam a forma de realizar essa investigação e são admiravelmente esclarecedoras para aqueles que se aventuram nessa jornada. Seus ensinamentos têm, desde as primeiras palavras, o sabor da liberdade.

Vivemos, na modernidade tardia, em um estado de banalização da vida. Ciência e razão se mostraram insuficientes para dar conta dos tremendos desafios da existência e para lidar com as poderosas forças que regem a vida humana. Como diz a Vedanta, essas forças devem ser trazidas à tona e expostas não apenas à mente consciente, ao ego, que é limitado e não tem condições de lidar com elas, ele mesmo formado por essas forças; as poderosas forças que regem a vida humana devem ser expostas à dimensão infinita do indivíduo.

Na modernidade tardia, as grandes narrativas, que sempre foram incompletas e precárias, perderam a força, e já não servem como sistema de orientação. Não havendo mais transcendência e tendo soçobrado as promessas de criação de uma boa sociedade com base na ciência e na razão, resta apenas aos indivíduos a banalidade cotidiana. Corre-se em busca de um “nada” sempre apresentado com diferentes ornamentos. O sujeito fragmentado é reconfigurável e molda-se ao sabor das aceleradas demandas mercadológicas, e das transformações sociais que as acompanham, no terreno em que o único horizonte é a superfície.

Em relação aos precários sistemas e estruturas que desmoronaram, desreferencializada a realidade e dessubstancializado o sujeito, o desamparo do indivíduo atinge níveis gigantescos, que têm de ser dissimulados também com uma gigantesca máquina de entretenimentos e de outras formas de fuga.

Nessa situação, como disse o filósofo Nikolai Berdyaev, a montanha desaparece do horizonte para sempre, deixando apenas uma platitude infinita. Com os ensinamentos de Ramana Maharshi, a montanha, além de metaforicamente, retorna literalmente ao horizonte. Trata-se da sagrada Montanha Arunachala, de onde vem essa mensagem, que se aplica a todas as épocas e circunstâncias, pois se refere ao que é completo e estável, à nossa verdadeira natureza.

Nesta tradução, mantive os termos sânscritos que se encontram no texto original em inglês, adicionando uma breve explicação na primeira ocorrência de cada um deles, mantendo, também, o glossário da edição original. é útil, por fim, que se advirta de que palavras e expressões como “Self”, “verdadeira natureza do indivíduo”, “Si Mesmo”, “verdadeiro eu”, “Deus”, “Coração”, Atman, “Brahman” e “Ser” são sinônimos e se referem à essência de todos os seres e de todas as coisas.

Especial agradecimento a Pedro Livio, por sua inestimável colobaração. BRASIL, 2014


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