O ZEN e a Caverna de Platão 
Diálogo com um Mestre Zen - fonte: http://www.espacoholistico.com.br/perguntasiluminacao.htm

Pergunta: É possível fazer uma comparação do ensinamento budista com o célebre exemplo da Caverna de Platão?

Resposta: Uma analogia é algo limitado, útil somente até determinado ponto. Na analogia da caverna, Platão imagina seres que estão ao fundo de uma caverna e interpretam o mundo através das sombras que a luz externa projeta na parede.

Nenhum deles jamais saiu de lá. O mundo do samsara (o mundo das ilusões em que vivemos) é assim: um mundo de sombras que interpretamos e nas quais vemos relações.

Lá fora existe uma luminosidade pura que permite que tudo surja por meio de sombras. Mas a luminosidade não são as sombras e as sombras não são a luminosidade. No entanto, estão tão ligadas que, sem a luminosidade, as sombras não existem, e sabemos que há luminosidade porque há sombras.

A vacuidade, o Vazio (o não manifesto, o incondicionado, o além de características) é, nesta analogia, a luminosidade.

As sombras seriam as nossas percepções, as palavras os símbolos com que tentamos entender a luminosidade, através das interpretações que fazemos das sombras.

Não admira que seja tão difícil duas pessoas se entenderem, quando

um quer que surja a lógica, através dos raciocínios que faz com palavras (semiótico) a respeito das sombras e dos relatos sobre estas relações,


e o outro, por sua vez, deseja falar sobre a luminosidade, também usando símbolos criados através do estudo das sombras para explicar que a luminosidade está "além" de qualquer sombra.

No Zen, diríamos de imediato que: "As sombras e a luminosidade não são um e também não são dois".

Ou seja, a luminosidade externa é não definível pelas sombras, as sombras, embora manifestação que só surja se existe luminosidade, estão num nível inferior de complexidade que não permite que, com elas, analisemos o nível superior.

Assim como as pedras e sua ciência não esclarecem a biologia, como a fisiologia do cérebro não esclarece a consciência: podem, no máximo, dar uma sombra, um mero vislumbre da manifestação mais complexa.

Será útil este ensinamento baseado nas sombras? Com certeza, a maior parte dos ensinamentos budistas é assim. Deve-se falar no "além" disso? Com certeza, sob pena de nos recusarmos a virar e sair da caverna.

Iluminação seria isto? De certa forma sim.

Samsara (as sombras) e nirvana (fora da caverna) são o mesmo?

Sim e não, os dois não são um, mas também não são dois, e os bodisatvas são os que retornam para dentro da caverna e falam sobre a luminosidade, porém não podem iluminar ninguém, podem apenas dizer:saia, saia, vire-se, isto aqui são só as sombras, você mesmo é sombra!

Porém, sem ver a luminosidade não é possível entender.

Nessa analogia (limitada, lembre-se), iluminação é mergulhar na luminosidade.

O mundo das sombras, assim, fica paupérrimo. Nirvana é, vendo isto, livrar-se de todas as relações entre sombras, ficar sem "ventos" internos. Pode-se estar no Nirvana e não ser um bodisatva. Parinirvana é dissolver-se em pura luminosidade.

Assim sendo, apenas com o vocabulário e as técnicas úteis dentro de um âmbito, não podemos entender o outro. É preciso sempre abandonar a caverna para, mergulhados na luminosidade, compreender que aquele mundo é inexprimível para o expectador da face de pedra interna.

Voltar