Nu, sozinho e ignorante
Extraído de 2003 Boulder One-Day Retreat with John Sherman
(Retiro de um dia em Boulder - 2003)
Boulder, Colorado - 17 de maio de 2003
Todo mundo diz que a identificação equivocada é
o problema, mas ninguém tem a menor idéia do que fazer com ela, a não ser
"eliminar o ego", "matar a mente". O que é estranho com relação a isso, em
nossa sociedade em particular e na cultura ocidental, é que "ego", palavra
usada para indicar este diabo que precisa desaparecer, é o termo latino para
"eu".
Esta é uma coincidência realmente maravilhosa,
porque de maneira bastante chocante e surpreendente, o objetivo sugerido por
Ramana para a sua investigação é justamente o ego, este sentido de "mim mesmo",
e não alguma coisa nova.
Ramana diz que a realidade da identificação
equivocada consiste na totalidade de sua consciência individual. Ela não é um
objeto que surge e desaparece dentro da sua consciência individual; ela é a
totalidade do mundo, da unidade mente/corpo que aparece quando você acorda de
manhã, desaparece quando você adormece à noite e, quer você tenha notado ou
não, aparece e desaparece freqüentemente durante o dia.
É a totalidade desta consciência que você
talvez tenha passado a acreditar que é a própria consciência. Esta é a essência
da identificação equivocada. É a isso que Ramana se refere quando fala do
"pensamento-eu" e da idéia "eu-sou-o-corpo".
Passei muito tempo procurando a idéia
"eu-sou-o-corpo" quando estava vivendo no "inferno", e não consegui encontrar
nada que respondesse a esse nome. A razão para isso é que eu estava procurando
um pensamento, uma idéia dentro desta consciência que é, ela mesma, a própria
idéia "eu-sou-o-corpo". Isto é realmente importante.
Não se trata de alguma coisa que surge dentro
da sua consciência; ela é a realidade da sua consciência individual em sua
totalidade. E o campo que subjaz a ela é a sensação de
existência. É esta sensação de existência como "eu" que se revela
permanente. É a própria fonte do "pensamento-eu" que se revela permanente.
Ramana nos orienta a encontrar o ego. Ele nos
diz para encontrar este sentido, esta sensação de "mim mesmo" (que toda a minha
vida espiritual eu sabia que era o diabo, o problema que tinha que desaparecer)
e manter a atenção somente nela.
Quando a atenção se desviar desta
inexperienciável experiência de ser, ele nos orienta a trazê-la de volta. É
isso que Papaji quer dizer quando compara a mente, e sua tendência a voltar-se
para o exterior, com um touro que precisa ser continuamente trazido de volta ao
estábulo, até que finalmente ele se cansa de ir para fora e percebe que tudo
que buscava lá fora pode ser encontrado apenas aqui.
Quem sou eu? A que estou me referindo quando
digo a palavra "eu"? Esta pergunta aponta para o alvo da sua investigação. A
que estou me referindo quando digo a palavra "eu"?
Eu sei do que estou falando quando falo de
minha camisa marrom. Sei a que objeto estou me referindo. Sei aonde minha mente
vai se você me perguntar "Que tipo de relógio você está usando?"
Aonde vai a sua mente quando eu lhe pergunto
"Quem é você?" Essa é a fonte, essa é a origem, esse é o campo. E o que se pede
a você é simplesmente isto: mantenha sua atenção nisso, não se satisfaça com
nada mais; e veja que todas as coisas que você pensou que eram o objeto de sua
vida espiritual são puro lixo. Não servem para nada.
Em função desta investigação, pelo menos aceite
isso como uma possibilidade, e busque somente o seu ego. Deixe de lado toda a
bagagem metafísica que você carrega, esqueça todos os conceitos filosóficos que
você conhece, deixe de lado todas as idéias espirituais que você tem, e
simplesmente, na prática, procure o seu ser.
E não se satisfaça com mais nada.
Portanto, é aqui que começamos: sem saber nada,
sofrendo, cansados de aceitar idéias como a solução para nosso problema
insolúvel; com seriedade absoluta e uma intenção determinada de saber a
verdade. Nem a grande Verdade, nem a pequena verdade, mas a verdade de quem eu
sou, pouco importa o que ela revelará ser. Sabendo que eu posso acabar
descobrindo que sou apenas um pedaço de carne em putrefação.
Esqueça todas as garantias que o trouxeram até
aqui. Você começa nu, sozinho, ignorante, sem querer nada, a não ser a verdade
e sem idéia alguma acerca do que ela é. Encontre a si mesmo.
© 2003 John Sherman. Todos os direitos
reservados.
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