Jean Baptiste Bernadotte
nasceu em 1763 e cedo
escolheu a carreira militar.
Na juventude, fortemente
influenciado pelo pensamento
dos iluministas, tornou-se
revolucionário. Acrescentou
o nome de Jules ao seu,
entusiasmado com a história
de Júlio César, em Roma,
chefe da facção popular e
que, com os títulos de
ditador perpétuo e Augusto
(divino), já era,
praticamente, imperador,mas
recusou o título.
Bernadotte ainda mandou
fazer uma tatuagem no peito,
que jamais mostrou a quem
quer que fosse e que o
acompanhou por toda a vida.
Fez rápida carreira militar
e, aos 31 anos, já era
general. Serviu a França da
Convenção, a França do
Diretório e a França de
Napoleão. Todavia, entre os
dois existia uma situação,
no mínimo, embaraçosa.
Bernadotte acabou se casando
com Désiré, que tinha sido a
primeira namorada de
Bonaparte e cuja mão pedira
ao pai. Este, entretanto,
recusara a proposta,
alegando que a irmã mais
velha de Désiré já era
casada com José Bonaparte
(que, um dia, Napoleão
nomearia rei da Espanha).
Apesar dessas questões
familiares, Bernadotte lutou
junto a Napoleão e teve
grande destaque na campanha
da Itália. Mas não apoiou o
golpe do 18 Brumário(1799),
em que Napoleão se fez
nomear 1º Cônsul, como
também o de 1802, no qual o
inteligente corso se fez
Cônsul Perpétuo.
Sabemos, ainda, que, em
1804, Bonaparte se decide
pelo império e o papa Pio
VII vem de Roma a Paris,
para coroá-lo. Mas o mundo
assistiria a uma ousadia
inédita, que estava bem na
tradição da Revolução
Francesa : Quando o papa
ergue a coroa, Bonaparte,
agora Napoléon I, toma-a de
suas mãos e se autocoroa,
para, em seguida, coroar a
cabeça de Joséphine.
Diga-se de passagem, que, em
1808, como este papa se
recusou a respeitar o
Bloqueio Continental contra
a Inglaterra, Napoleão
ocuparia os Estados
Pontifícios, seria
excomungado por Pio VII e o
prenderia em Savona, onde o
papa ficaria até 1814.
Em 1798, Bernadotte ainda
mantinha seu ardor
revolucionário : Embaixador
em Viena, hasteia a bandeira
tricolor da Revolução no
topo do prédio da embaixada
e perde o cargo. De volta à
França, é Ministro da
Guerra, sendo, depois,
destacado para a Vendée(Vandéia),
reduto de monarquistas. No
mesmo ano de 1804, Napoleão
promove Bernadotte a
Marechal.
Aqui, abriremos um
Parêntesis, para escrever um
pouco sobre a História da
França , nesse período.
A 1ª e a 2ª coalizões contra
a França tinham sido
propostas pela Inglaterra e
foram inúteis. Na 3ª
coalizão, além da
indefectível Inglaterra,
uniam-se austríacos(eternos
sacos de pancadas) e os
russos de Alexandre I.
Napoleão sabia que uma parte
importante do exército
austríaco se achava em Ulm,
na Alemanha atual, sob o
comando do general Mack.
Resolveu atacar´antes que os
russos chegassem. No seu
tradicional estilo de marcha
forçada, atravessou o Reno e
envolveu os austríacos, num
sítio de ferro.
Não havia o que fazer : Mack
e seus 22000 soldados se
entregaram, sem dar um tiro,
a 20 / 10 / 1805.
Em outra frente, Davout (ou
Davoust, como se encontra no
Arco do Triunfo, em Paris)
invadiu Viena e ocupou-a.
Mas, no dia seguinte,
Napoleão ficava sabendo que
fracassara a única tentativa
que fez de ocupar a
Inglaterra, com as armadas
franco-espanholas
conjugadas. Nelson venceu-as
em Trafalgar, em 21 / 10 /
1805. Morreram o próprio
Nelson e o almirante
espanhol Gravina.
Bem, o grosso do exército
austríaco se achava fora da
Áustria ocupada e tinha no
comando o seu imperador
Francisco I, que era,
também, o imperador
Francisco II, do
Sacro-Império
Romano-Germânico, o qual
vinha desde Carlos Magno(ano
800). As tropas se uniriam
aos russos em Austerlitz, na
atual República Cheka.
Napoleão concebeu uma
tática, que se revelou
magistral. Ele enfraqueceria
deliberadamente o flanco
direito. Russos e austríacos
iriam atacá-lo,
enfraquecendo o seu centro.
Então, Soult e Saint- Lazare
atacariam o centro. Legrand
e Davout, que viria de
Viena, defenderiam o flanco
direito. Davout e seus
soldados, em marcha forçada,
cobriram 110 Km em 48 horas.
A batalha foi a mais
grandiosa das 60 batalhas de
Napoleão e é comparada à
vitória de Aníbal sobre os
romanos em Canas, em 216
a.C. Foi chamada Batalha dos
Três Imperadores(França,
Áustria e Rússia presentes).
Durante essa batalha, saiu
um sol esplendoroso, que
seria lembrado pelo
imperador aos seus soldados,
antes da vitória, em Moscou,
em 1812. As baixas
austríacas e,
principalmente, russas , em
Austerlitz, foram imensas.
Terminava a 3ª coalizão.
Bernadotte lutou bem, no
centro das escaramuças, e
Napoleão lhe deu o título de
Príncipe de Pontecorvo,
(devido à sua campanha na
Itália). A Áustria pagou uma
indenização de 50 milhões de
francos. Com uma penada,
Napoleão extinguiu o
anacronismo do Sacro-Império
e colocou Francisco I no seu
lugar: apenas imperador da
Áustria (com o Congresso de
Viena, o Sacro-Império
voltaria, mas
desmoralizado).
A 4a coalizão, patrocinada
pela Prússia, contava, outra
vez, com a Rússia. Tão logo
Napoleão soube da Declaração
de Guerra, invadiu a Prússia
em marcha forçada, enquanto
mandava avisar Davout e
Bernadotte que o seguissem
imediatamente como reforços.
O heróico Davout se pôs em
marcha com apenas 27 000
homens, enquanto Bernadotte,
sem que se saiba por que,
não se moveu.
Em Jena, na Turingia,
Napoleão encontrou o
exército prussiano, que foi
vencido sem dificuldades, a
14 / 10/ 1806. Só então,
Bonaparte percebeu que o
grosso do exército inimigo
estava em Auerstedt, com
55000 soldados, comandados
pelo imperador Francisco
Guilherme III. Napoleão
aguardou a vitória conjunta
de Davout e Bernadotte, mas
a verdade é que Davout
sozinho teria de vencer um
exército que lhe era mais
que o dobro. E ele o fez,
tendo, ainda, matado um
velho inimigo da França, o
Duque de Brunsvick, no mesmo
dia 14 / 10 /1806. As forças
francesas entraram em
Berlim, enquanto o Imperador
Francisco Guilherme III se
refugiava, permanecendo
aliado dos russos. Terminava
assim, a 4ª coalizão.
Na volta a Paris, Davout
comunicou que, face à
traição de Bernadotte,
bater-se-ia em duelo com
ele. O imperador o impediu,
mas advertiu com extrema
seriedade o Marechal cunhado
de seu irmão.
Contudo, apesar desse grave
desentendimento, Bernadotte
ainda lutou pela França,
destacando-se como o melhor
comandante do imperador na
batalha de Eylau (Prússia)
contra os russos, a qual
deixou nada menos que 40 000
mortos sobre o terreno, na
5ª coalizão. Praticamente
aqui, terminamos o nosso
Parêntesis, sobre a situação
na França Napoleônica,
embora ela ainda venha a ser
citada várias vezes. Vejamos
o que se passava, nessa
época, na Suécia.
Em 1809, o rei sueco Gustavo
Adolfo IV, sob pressão, cede
aos russos mais da metade do
seu território, que era a
Finlândia. O rei queria
evitar uma guerra. Aliás,
desde que o último rei
guerreiro da Suécia, Carlos
XII, foi derrotado por Pedro
o Grande na batalha de
Poltava, em 1709, Bi os
suecos, sempre que podem,
envolvem-se o mínimo
possível nos conflitos do
saco de gatos, que é a
Europa.
Mas desta vez, o povo
considerou uma concessão
abjeta e revoltou-se. As
forças armadas destituíram
Gustavo Adolfo IV e a Dieta
(Parlamento) colocou no
lugar dele o seu tio, Carlos
XIII, que, entretanto, não
tinha descendentes. Ora, a
população desejava um
sucessor e, numa época de
tantas guerras e ameaças,
que tivesse um certo
traquejo de comando.
Foi então que um determinado
nobre sueco resolveu agir
por sua própria conta e
risco. Foi a Paris e
convidou Bernadotte a ser o
herdeiro da coroa sueca.
Napoleão o considerou
psicopata, inclusive porque
a Suécia nunca revelara
simpatia pela França, nas
guerras. Também na Suécia, a
surpresa foi tal que, ao
regressar, a Dieta mandou
prender o referido nobre.
Entretanto, a sua idéia
recebeu grande simpatia da
população. Apesar de alterar
a sequência dinástica, era
uma pessoa assim que estavam
querendo. E o rei também se
convenceu. Em 1810,
Bernadotte foi eleito
Príncipe da Coroa Sueca e
abandonou o catolicismo,
tornando-se luterano. Carlos
XIII adotou-o, então, como
seu sucessor, com o nome de
Carlos João. Bernadotte
passou a comandar o exército
sueco.
Em 1813, invadiu a Holanda
e, depois, a França, sua
pátria, vencendo,
sucessivamente, dois
Marechais que eram seus
amigos, Oudinot e Ney(o
bravo dos bravos).
Em 1814, conseguiu, em
negociações, que a Dinamarca
cedesse a Noruega à Suécia,
como compensação pela perda
da Finlândia. Ainda neste
ano, seus exércitos
acompanham as tropas aliadas
que entram em Paris e forçam
Napoleão a abdicar em
Fontainebleau.
Em 1815, o Parlamento
norueguês rechaça a união
com a Suécia e Bernadotte
faz o único que sabe fazer:
invade o país com o exército
sueco e impõe a anexação.
Nesse mesmo ano, o exército
de Napoleão, em Waterloo(18
de junho), depois de ter já
vencido os prussianos de
Blucher e esperar os
reforços que viriam com
Grouchy, para consolidar a
vitória, é traído por este e
derrotado por Wellington. O
enorme temporal desse dia
anunciou o fim do Petit
Caporal.
A cessão da Finlândia pela
Suécia à Rússia e da Noruega
à Suécia pela Dinamarca,
para se evitarem guerras,
mostram que, já nessa época,
os países escandinavos
vinham na trajetória que os
tornaria, no século XX, nas
mais civilizadas nações do
planeta. Dos 5 acima
citados, à exceção da
Rússia, 4 são escandinavos
ou nórdicos.
Em 1818, morre Carlos XIII e
Bernadotte assume o trono da
Suécia, com o nome de Carlos
XIV João e o trono da
Noruega, como Carlos III (a
Noruega viria a separar-se
da Suécia, pacificamente, em
1905). Iniciava-se uma nova
dinastia. De Bernadotte e do
seu filho Oscar I descendem
todos os reis da Suécia até
hoje. Nas armas reais desse
país, existe, no centro, em
ponto pequeno, a bandeira
tricolor da Revolução
Francesa.
Bernadotte morreu em 1844 e,
então, se conheceu a
TATUAGEM que fizera no
peito, quando jovem :
MORT AUX ROIS (MORTE AOS
REIS )
O REI E A RAINHA ATUAIS
O rei atual da Suécia é
Carlos Gustavo XVI ou, no
sistema sueco, Carlos XVI
Gustavo e pertence,
evidentemente, à Dinastia
Bernadotte. O rei conheceu,
nos Jogos Olímpicos de
Munique, em 1972, a jovem
Sílvia Renate de Toledo
Sommerlath, nascida em
Heidelberg,em 1943, filha de
um industrial alemão e de
uma brasileira.
Sílvia viveu em São Paulo
dos 4 aos 13 anos de idade.
Em 1973, Carlos Gustavo se
tornou rei e em 1976, ele e
Sílvia se casaram. É um fato
curioso, portanto, que a
rainha da Suécia tenha
cidadania brasileira e fale
o Português de São Paulo,
como qualquer um de nós.
Mas Sílvia fala fluentemente
seis idiomas(o que é próprio
da nobreza), tendo se
especializado em Espanhol.
Ela é, também, especialista
em sinais auditivos. Em
1999, a rainha fundou a
World Childhood Foundation,
em defesa das crianças do
mundo. Devido a essa
fundação, tem vindo várias
vezes ao Brasil e dado
palestras. O casal real tem
três filhos: Victoria(a
herdeira do trono), Carlos
Filipe e Madalena. Os três
estudaram, até o secundário,
em escolas públicas! Isto é
um país escandinavo.
Luiz Roque
Bibliografia: Dicionário
Prático Ilustrado, Grande
Enciclopédia Larousse
Cultural, Internet
Aos aficionados da arte do
xadrez, recomendamos a
análise da famosa
Partida da Ópera,
assim chamada por ter sido
jogada no intervalo da Ópera
Norma, em Paris, entre
Morphy e dois fortes
amadores da aristrocracia
francesa.
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