desenredo, subst.
masculino -
ação ou efeito de
desenredar (-se);
      * * * * * * DESENREDO * * * * * *      
Site idealizado por José Carlos Corrêa Cavalcanti (2005)
desenredamento;
desprender-se da rede;
separar-se do que
está enredado.

O CICLO CÓSMICO DA AUTODESCOBERTA
José Carlos Corrêa Cavalcanti      (08/dez/24)

Nossos pensamentos se sucedem quase ininterruptamente, ecoando lembranças, reconhecendo percepções sensoriais, descrevendo e avaliando as sensações do corpo e as inquietações da alma. Como resultado dessa atividade surge o desejo (de algo que traga prazer ou bem-estar) ou a recusa (de toda dor física ou emocional) — e tudo isso gera novas avaliações, novos caminhos para o prazer e novas estratégias para evitar a dor.

O mecanismo do cérebro, então, é um moto perpétuo, pois é posto em funcionamento por si mesmo. Ou seja, sua atividade de avaliar os pares de opostos de natureza física, emocional e mental, e procurar reter somente o agradável, descartando o que incomoda, traz frustrações e dores que exigem a repetição do processo.

Perambulando pelo passado e pelo futuro, nossos pensamentos estão sempre julgando as coisas, lugares, situações e pessoas. Assim fazendo, geram no corpo sensações de agrado ou desagrado, de simpatia ou antipatia, de prazer e dor. E, ao mesmo tempo em que montam os cenários que representam as coisas desejadas ou temidas, transformam-se em decisões e ordens.

Mas como pode uma sopa química produzida pelo cérebro se transformar em nossa lei e autoridade suprema, a ponto de nos fazer rir, chorar, matar ou morrer?

Acontece que essa sopa química é a parte física e observável do processo da consciência, pelo qual SABEMOS o que está se passando. Em outras palavras, nossa consciência se manifesta de forma dual: em um lado subjetivo, que é o significado pessoal, (memória e sensações) e um lado objetivo, que são as reações químico-elétricas, visíveis e mensuráveis, que ocorrem no cérebro.

Olhando o lado subjetivo, que toca diretamente nossa percepção, podemos ver que o pensamento desperta sensações, e estas também têm o poder de ativar pensamentos. São dois lados da mesma moeda. Quando a sensação é de pequena intensidade, o pensamento é descartado; quando é forte, reforça o pensamento e tende a direcioná-lo. Nesse momento surge a intenção, destinada a aplacar a sensação, quando dolorosa, ou reforçá-la, quando prazerosa. Todas as falas, tons de voz e gestos são comandadas pela intenção — revestida pelo pensamento.

Tudo isso faz da consciência um palco onde os pensamentos, ou mais precisamente, as palavras proferidas, despertam sensações e emoções, que por sua vez influenciam, NO EXATO INSTANTE EM QUE OCORREM, as intenções que se escondem por detrás de nossas falas. É por isso que uma conversa amena pode se transformar de repente num pesado desentendimento. A intenções iniciais vão sofrendo os impactos das emoções despertadas pelas palavras usadas de parte a parte.

A grande pergunta é: QUEM É O ATOR?

Certamente, não é o pensamento (que fornece o roteiro, o script da representação) nem a sensação, nem tampouco as emoções (que são os combustíveis da representação).
O Ator é a substância da representação.
Ele atua em oculto e está escondido atrás da intenção.
É ele que atua em todos os dramas, sem ser jamais reconhecido, pois damos mais importância às palavras ditas e às emoções expressas.
Estas, porém, não são a substância.
Na ausência de um papel a representar, o Ator não desaparece, embora permaneça desconhecido.
A falta temporária das falas e scripts não faz falta nenhuma.
Mas o Ator, esse é vital. Ele é a substância desconhecida, usada desatentamente em todas as nossas interações no mundo, como se não tivesse maior importância.
Ele é a Presença consciente que percebe o mundo e não pode, absolutamente, faltar em nenhum instante.
Ele é o Espírito.

O poder do pensamento deve-se a ele estar sempre associado à substância, ao Espírito, como se fosse sua voz. Quando tomamos uma decisão qualquer, primeiro ela aparece com um pensamento: eu quero, eu não quero, eu vou, eu não vou, etc. E o objetivo da decisão, invariavelmente, é chegar a uma situação de paz interior, entendida como satisfação de desejos (ainda que temporária) ou livrar-se de alguma dor física ou inquietação psicológica (embora se renovem posteriormente).

A questão da mais elevada importância neste contexto é a seguinte:

DE ONDE PROCEDEM, OU SEJA, QUAL É A ORIGEM DE NOSSAS DECISÕES?

A resposta fácil e rápida é: do cérebro. Mas, em nosso íntimo, NÃO SENTIMOS, EM ABSOLUTO, que nossa identidade se reduza a um tecido onde ocorrem incríveis fenômenos químicos e elétricos.

Quando um artista, músico, escritor ou filósofo tem inspiração de uma nova obra, ou quando o cientista descobre algo fundamental da natureza, eles NÃO SE AJOELHAM CULTUANDO O CÉREBRO, embora este possua importância capital ao espelhar, no lado material, nossas percepções e sensações.
Realizando a contraparte material de nossa consciência, ele representa, por meio de complexos fenômenos físicos, hormônios e substâncias cada percepção, cada compreensão que temos ou emoção que sentimos. Mas não é a fonte da criatividade.

Acontece que nosso Espírito não tem forma.
É VAZIO de qualquer aspecto de materialidade.
NÃO PERTENCE AO MUNDO.
E, mesmo assim, em todas as formas vivas, é a Presença Consciente que percebe o mundo!
E SUA MISSÃO TERRENA, MANIFESTO EM FORMA HUMANA,
É DESCOBRIR A SI MESMO PARA ALÉM DAS COISAS MANIFESTAS.


Mas voltemos à pergunta anterior: quem é esse que toma as nossas decisões?
Quando um ator interpreta um personagem colérico, talvez este realize atos violentos e cometa grandes injustiças. Mas o ator SABE que o personagem não é real, e os atos cometidos também não são reais.

Algo semelhante ocorre em nossa existência cotidiana.

A DIFERENÇA FUNDAMENTAL é que acreditamos ser o personagem, seus motivos, opiniões e emoções. Em consequência, cometemos toda sorte de ações egocentradas, prejudicando outras pessoas.

Portanto, nossas decisões e atos provêm de nosso próprio Espírito que, desconhecendo a si mesmo, julga ser os personagens de suas narrativas. E segue, ao longo de toda a existência, expressando-se num rodízio de personagens comandados pelas reações de nosso cérebro em busca de sobrevivência e prazer.

O EU espiritual, que não pertence ao mundo, transforma-se num súdito do mecanismo material.

Mas o ego, em cuja base está a Consciência Filha, jamais experimentará a felicidade genuína na experiência terrena.

Lembra-se?

"MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO".

Sempre faltará alguma coisa, e essa alguma coisa é descobrir sua natureza verdadeira, pois...

para entrar na Mansão Celeste, o Filho Pródigo tem que que comungar com o Pai,
retomando sua identidade cósmica, irredutível, derradeira e espiritual
como Presença Consciente silenciosa e não verbal.


Do contrário, penará no reino deste mundo procurando em vão a genuína felicidade por meio de aquisições, riquezas, força, segurança e prazeres.

E, assim fazendo, mais uma existência será desperdiçada e o Espírito, com a morte do corpo físico, estará sobrecarregado pela dor da separação do Absoluto e ansiará por nova oportunidade de retornar à manifestação em uma nova forma física — correndo mais uma vez, porém, o risco de voltar abrigar em si e se identificar com a concepção de uma identidade pessoal.
 


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