E há diferença? Claro!
Carinho a gente sente, carícia a
gente faz. De perto ou de longe, pode-se sentir carinho. Já a carícia tem de
estar ao alcance das mãos. O carinho pode ser amoroso e amigo. A carícia, além
de amorosa, tende para o sensual.
Uma das maiores queixas que os mais
velhos têm é da falta de carinho nas relações do dia a dia e de carícias
durante o encontro sexual.
As mulheres dizem:
"Ele briga comigo o dia todo e a
noite vem me procurar! Acha que só porque ele quer, eu tenho que estar
disponível. Esse tempo já foi. Agora terá de ser com jeito. Não vai ter mais
isso: faz, vira pro lado e dorme. Está pensando o quê ?!
Os homens retrucam:
"Mas é claro que eu a procuro,
quando quero. Vou procurar quem ?! Ela não é minha mulher? Um homem precisa
disso. Agora, cada vez que eu quiser, vou ter que dar presente, levar pra
dançar ?! Está brincando!"
O desencontro é muito grande e muito
antigo, o desencanto.
Não raro, vem da lua de mel:
"Eu pensei que
seria maravilhoso. Me preparei com uma linda camisola. Naquele tempo se usava a
camisola do dia. Era a peça íntima mais bonita do enxoval: macia,
trabalhada, feita para que a gente se sentisse uma rainha e custava caríssimo.
Eu sonhava que ele viria, me diria tanta coisa bonita e me seduzisse... Então,
eu perderia o medo e a vergonha, e o momento de me tornar mulher seria muito
feliz. Inesquecível! Sim, inesquecível foi, mas de decepção e de vazio. Aquela
coisa fria, sem encanto...Tudo rápido demais, dolorido e ruim. Do que mais me
lembro é de ter ficado pensando: então é isso? Vou ter de passar por isso o
resto da minha vida? ! Senti mágoa, raiva e tristeza. Prazer? Nenhum. Me senti
ludibriada. Se para ele foi bom? Sei lá. Nunca conversamos sobre isso. Uma ou
duas vezes tentei. Ele não gosta de falar sobre sexo. Então, não falo mais.
Acho que a juventude está certa. O melhor e experimentar antes. A minha filha
casou virgem, acho que a eduquei de forma errada. Eu ainda tinha muito
preconceito. Minha neta, não. Dou o maior apoio. Ela dorme com o noivo. Se eu
tivesse feito isso antes, não teria me casado. Não com ele! Ah, não teria."
(Dolores,67 anos).
A repressão sexual incide em ambos:
homens e mulheres, prejudicando não só a relação sexual em si, como também toda
a expressão amorosa, inclusive aquela trocada entre pais e filhos, irmãos e
amigos.
A repressão dos afetos cria um vazio
doloroso, não só entre os sexos, mas entre as gerações, criando um padrão oito
ou oitenta, tipo tudo ou nada.
RELAÇÕES
DIFÍCEIS
Há muitos casais que de dia nem se
olham, brigam, mal se falam e à noite: cama. Penetração, beijo forçado e
nenhuma palavra trocada. Ou, então, palavras de carinho só no único momento em
que se sentem unidos.
Conversar depois sobre sentimentos e
esperanças? Nem pensar. Ele, sem paciência. Ela, falando com as portas. É
típico de casais que, às refeições, não trocam mais da que as palavras
necessárias e na rua, mal e mal se tocam.
Os homens entendem que fazer sexo
é demonstrar afeto e carinho.
No mais, não procuram agradar e
ainda arrematam:
"Se eu não falo nada é porque está
tudo bem. Tem de falar?! Eu só falo quando não gosto, ela sabe disso".
A mulher, mais carinhosa, vai se
retraindo, ressabiada e rancorosa:
"Se ele não me abraça, não fala
comigo, nem repara em mim, então por que eu vou ser gentil e amorosa como nos
primeiros tempos? Antes eu corria, esperava ele chegar e servia. Agora, aviso:
quer comida? Está lá no microondas!"
ELES RECLAMAM DA FALTA DE CARINHO
DELAS.
ELAS RECLAMAM DA FALTA DE ATENÇÃO
DELES.
É bem verdade que prestar atenção é
a forma de demonstrar bem-querer, por excelência.
Quando não nos sentimos notados, é como se não existíssemos. Começamos a
duvidar de tudo. E a dor que sentimos passa a ser um registro, uma lembrança de
que estamos vivos...
É como se a nossa mente raciocinasse
assim:
"Sofro, logo
existo. É melhor ser ofendido, do que não ser sequer notado!"
Isso fere o amor próprio sadio e
nos torna carentes crônicos. Como sair disso? Afeto, afeto e mais afeto. É
preciso aprender a dar. E aprender a receber, que é o mais difícil, porque para
isso temos de vencer muito nosso orgulho que, falsamente, nos faz acreditar na
auto - suficiência, que não precisamos muito um do outro.
Aqueles que são muito duros,
fechados, ou os que são manhosos demais e grudentos, estão sofrendo do mesmo
mal: falta da expressão do amor! Então há dois procedimentos a para "recuperar
o prejuízo", ou seja, ganhar espontaneidade e segurança na linguagem do bem
querer e do amor.
É preciso discernir entre o carinho
que se pode devotar a um amigo, pai ou irmão; distinguir um sorriso, um toque,
um gesto de ternura, um beijo confortador, de uma carícia, que pode evoluir
para uma excitação e um comprometimento.
Ainda assim, a carícia pode se
limitar a um patamar sensual de excitação e apreço, sem maiores obrigações, ou
evoluir para uma proposta de envolvimento sensual de muito prazer, uma carícia
erótica. Nesse sentido, entre as gerações, o que se espera é carinho: sorrisos,
beijos, abraços, presença e declarações, inclusive de um eu gosto tanto de
você para um "sabe que eu te amo?".
Entre casais, o que se espera, além
do carinho, é que troquem mais carícias, das mais ternas e suaves, quase
ocasionais, às mais intensas e ardentes, cheias de desejos apaixonados,
consentidos e bem aproveitados.
PARA DAR ATENÇÃO, AFETO E PRAZER:
OUVIR, sem se defender, sem criticar, sem ficar aflito para resolver.
OLHAR nos olhos um do outro, sem
desviar até se emocionar; dizer em silêncio e só pelo olhar, o quanto um se
importa com o outro. Acariciar com os olhos, com apreciação e com aceitação o
rosto e o corpo.
TOCAR, onde e como o parceiro
desejar e aceitar, até que não haja constrangimento e se possa estimular um ao
outro a avançar; o toque suave, com a palma das mãos, rostos colados e abraços
encaixados, sem, outra intenção a não ser estar juntos, até que se perca o medo
de continuar e se sintam à vontade e confiantes, seja para prosseguir ou parar
PARA RECEBER:
PEDIR claramente o que deseja ouvir, o que se deseja ganhar, de que maneira se
quer ser tocado, visto e acarinhado.
AGRADECER e permitir-se comover.
Matéria publicada na revista Via Vida
Ano II - nº 6 - 1998.
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