desenredo, subst.
masculino -
ação ou efeito de
desenredar (-se);
      * * * * * * DESENREDO * * * * * *      
Site idealizado por José Carlos Corrêa Cavalcanti (2005)
desenredamento;
desprender-se da rede;
separar-se do que
está enredado.

REALIZAR O ESPÍRITO ABRINDO-SE À VERDADE
José Carlos Corrêa Cavalcanti

A Origem de tudo é incognoscível. Nós a designamos por Mente Primordial, Deus ou Espírito, mas ela NÃO tem nome nem corpo físico. É não material, impossível de ser alcançada pela mente pensante. Qual é nossa relação com ela? Somos Consciência dela emanada — Presença Consciente ou Poder Cognoscente que conhece o mundo. E o mundo é formado por percepções, sensações físicas e pensamentos.

A Fonte Absoluta é incognoscível. Mas nosso grande trabalho não é conhecê-la; é conhecer a nós mesmos. Lembre-se do inspiradíssimo verso Fernando Pessoa: "O único mistério é haver quem pense no mistério". Assim, a grande questão é conhecer nosso eu pessoal em profundidade, muito além das superficialidades contidas nas preferências e aversões, crenças, ideologias e opiniões.

Nosso eu pessoal pode ser comparado a um vaso com água e impurezas diversas como poeira, fragmentos de pedras e folhas mortas, as quais ficam boiando ou subindo e descendo dentro da água. Esses conteúdos simbolizam nossas tendências psicofísicas (nossa propensões inatas ou aprendidas a certas respostas emocionais face aos estímulos recebidos), nossos interesses, aprendizagens e condicionamentos ao longo da existência.

Este é um modelo da mente humana. O Espírito ou Consciência, nesta analogia, é representado pela água. A água está suja? Impossível. Seu H20 é sempre o mesmo, incontaminado. O ego, porém, é a MISTURA, permeada de impurezas, que seriam os conteúdos dolorosos ou rejeitados da memória.

Acontece que a Consciência quando se move para conhecer (perceber) algo, toma a forma de atenção pousando na coisa percebida. Do mesmo modo que a luz, ao iluminar um objeto, toma a forma desse objeto e, se fosse dotada de percepção, não se perceberia como luz pois não tem atributos: nem forma, nem cor, nem memória — então se teria que perceber a SI MESMA, equivocadamente, como sendo o objeto, que possui uma série de propriedades e qualidades.

Assim, a água, (que nesta analogia representa o Espírito), atenta ao movimento das partículas, toma a si mesma COMO SENDO FORMADO POR ELAS. Isso é o que gera a consciência de ego, ou seja, a identificação com as partículas. Que é a identificação do Espírito (imaterial) com a memória (material).

As partículas da água representam os conteúdos da psique humana, adquiridos na experiência da vida: ideias, imagens, juízos, crenças, opiniões e emoções (mágoas, temores, culpas, arrependimentos, vergonha, raiva e tudo mais).

A certa altura o ego-mistura resolve procurar sua origem. Mas ele se considera indigno, pois ele mesmo se julga, e se julga segundo seus conteúdos. E estes não são bons. Pelo menos não são bons o suficiente. Suficiente para quê? Para dizer "EU E O PAI SOMOS UM".

Desejando o autoaperfeiçoamento, ele passa a considerar que o ideal da perfeição é ter somente conteúdos nobres em seu interior. Por isso, enche-se de vontade, capacidade de aprovação e rejeição para poder selecionar apenas as partículas que lhe parecem mais brilhantes e dignificantes, rejeitando as demais.

É assim que o ego-mistura imagina unir-se ao Princípio Divino ou Primordial: cercando-se dos conteúdos mais nobres da psique!
Quer entrar no Céu com uma MÁSCARA!!


Pois ele não compreendeu a extraordinária mensagem de Jesus: "O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS".
Dentro de vós — Inocente, Vulnerável, sem julgar nem condenar. Se realmente ele soubesse disso, NÃO procuraria melhorar sua autoimagem — a qual é o Espírito decaído.

Quando ele, ego, entra em ação para selecionar o bom, belo e justo e rejeitar o mau, feio e injusto, ele tem que usar de repressão interna, o que causa resistência e conflito. Mas os conteúdos que ele condenou e rejeitou não foram aniquilados, ao contrário: continuam na psique, e mais fortes ainda.

Com essa autoimagem artificialmente forjada e forçada, o ego quer ser digno da Deidade externa que ele mesmo construiu ao se julgar. Mas engana a si mesmo, pois os contúdos reprimidos volta e meia se manifestam.


O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
O Espírito está tomando a si mesmo como sendo misturado à psique humana.
O Atemporal julga ter anexado as marcas dolorosas e condicionantes da experiência humana transitória e finita.


Portanto, tudo o que é necessário é a desidentificação da água com a mistura.

Mas como isso poderá acontecer? Qualquer movimento do ego-mistura REFORÇA A SI MESMO. Em outras palavras:

Qualquer movimento psicológico do ego-mistura reforçará a identificação da água com as partículas — da Consciência com seus conteúdos.

ELE, ego-mistura, tem que perceber que sua base é a Água, o Espírito, INOCENTE, PURO, CHEIO DE AMOR. Isso é tudo. Não precisará mais julgar, aprovar, condenar ou selecionar coisa nenhuma. Basta ficar em silêncio, sem energizar seus conteúdos com julgamentos e condenações.

E esses conteúdos, desabastecidos de seu combustível que é a atenção, INERTES, lentamente se depositarão no fundo do vaso.

Nosso ser é a água-Espírito. Se não estivermos firmes nesse SER IMATERIAL que é nossa origem, seremos como fantoches dos desejos e paixões no mundo de nascimentos e mortes, ganhos e perdas, mutações, deterioração e finitude, onde...

"É inevitável a separação daquilo que se ama, e a união com aquilo que não se ama" (Buda).

O ego-mistura, portanto, deve ficar passivo, indiferente aos julgamentos e as respostas condicionadas da mente reativa (que surgem automaticamente), desenergizando-as com essa indiferença. Deve abrir-se à VERDADE que nele atua.
E essa VERDADE é a Presença Consciente (água) que experiencia o mundo, mas não é formada por seus pensamentos nem emoções.

Abrir-se à verdade é caminhar intencionalmente em direção ao Espírito em si mesmo.

E esse que inicia o processo é a mistura, ou seja, o próprio ego — que levou uma tremenda flechada do Infinito bem no meio de seu coração, e por isso ele faz o caminho em lágrimas, as quais vão ajudando a dissolver as crostas da falsa identidade que o acorrenta.

Chegamos ao Infinito ao perceber que, no nível mais profundo, JÁ SOMOS O INFINITO — como a mistura de água com impurezas: ela não tem que se transformar em água; ELA JÁ É ÁGUA!

Em outras palavras: não é que, no fim da jornada de autoconhecimento (se é que existe um final) você vai “chegar lá”, isto é, atingir algo diferente de si próprio, mediante um impossível auto-esvaziamento baseado na supressão de conteúdos.
Não é que "A" irá se transformar em "X".

Repito, não é que "A" irá se transformar em "X".

Não é isso. Pois "A", em sua base última, já é "X". Pois ESSE que inicia a jornada já é o Espírito, porém inconsciente de Si.

Ou seja, X já está presente desde o início, disfarçado de ego, eu pessoal, e mesmo de buscador espiritual!

PENSE NISSO:
Um raio de luz iluminando um quarto escuro por uma fresta colocará em realce a dança das partículas de poeira.
Estas vão reluzir um instante em seu movimento aleatório; vão mostrar características de tamanho, cor, temperatura.
Elas até se agrupam e formam figuras imprecisas, as quais surgem e desaparecem, surgindo outras em seu lugar e também desaparecendo.


Mas a a LUZ, que as revela, NÃO SE MISTURA com essas imagens transitórias. Ela tem natureza diferente.

A ideia de que ele, o Espírito, se mistura às coisas materiais, especificamente à memória, compondo-se em uma suposta unidade com ela, é a própria gênese do ego, do eu pessoal. Mas este é, na verdade, o próprio Espírito sobrecarregado das coisas terrenas, considerando-as como PARTE DE SI MESMO. E não são.

Então eu, o ego-mistura, já estou na ÁGUA-ESPÍRITO.

Ou melhor: o ESPÍRITO está em mim suavemente, silenciosamente.

E

SEMPRE

ESTEVE.



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