"Não estou entendendo", respondeu Pocinha.
"Você é não apenas suas gotinhas, mas
também os resíduos de seu leito, os quais são mutáveis, embora pareçam
permanentes", respondeu o monge, "e apegar-se às formas coloridas, e condenar a
lama, é o fator que cria a noção de uma entidade pessoal a reivindicar
continuidade. E isto remexe continuamente suas águas, turvando-as e embaçando
sua qualidade maior, que é a de refletir o Universo. "
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"Não entendo mesmo", replicou Pocinha
"sempre considerei o sujeito ao qual você se refere como
sendo pré-existente ao apego e à rejeição".
"Apenas parece ser assim, Pocinha. Esse
é nosso maior engano. Se você olhar bem, o sujeito que deseja ou condena surge
ao mesmo tempo que o objeto alvo do desejo ou da rejeição."
"E que acontecerá após minha evaporação?",
perguntou Pocinha.
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"As gotas se evaporam, mas os conteúdos
prosseguem, sempre em mutação, e vão abrigar-se em outras poças dágua".
"Sim... compreendo... ", murmurou
Pocinha, ao evaporar sua última gota.
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