Separar o grosso do fino
Dispomos de liberdade interior, em algum grau?
Quando os pensamentos disputam entre si e alguns deles
se afirmam em meio a conflitos e discussões internas,
algo parece aceitar aquilo que se afirma; seria o nosso "eu" pessoal.
Em outro momento, porém, outros pensamentos são vitoriosos e,
novamente, nosso "eu" os aceita, embora totalmente opostos!
Na base desse eu pessoal tão contraditório e volúvel, há algo extremamente maleável,
É Algo que permanece enquanto pensamentos, sensações e percepções surgem e desaparecem,
ao qual não parece importar em absoluto a "verdade atual" de nossa mente.
Esse é o EU SOU, a testemunha do desfile dos pensamentos, sensações e percepções que,
confundindo-se com as narrativas interiores descritas pelos pensamentos,
transforma-se no ATOR que representa todos os personagens de todos os dramas,
carregados de desejos e emoções.
Pensamos que a sabedoria consiste em fazer boas escolhas mentais,
pensar bons pensamentos e conseguir boas consequências —
mas nos esquecemos por completo de voltar a atenção ao fator "estar consciente",
que resgata a identidade do EU SOU liberando-a do emaranhado dos pensamentos.
A liberdade não está no ato de escolher e nem na escolha feita,
mas naquilo que as torna possíveis, que está sempre presente,
não emite quaisquer juízos, não condena nem absolve,
aquilo que nunca muda e, na verdade, é idêntico para todos nós.
Libertação, então, é SER UM com essa Presença que não pensa nem deseja nem julga,
mas que é engolfada pelo desejo, pelos pensamentos e juizos —
constituindo o "eu pessoal", que nos escraviza.
É por isso que se diz:
"a diferença entre o sábio o tolo é mais fina que um fio de cabelo".
E também:
"Espiritualidade é saber separar o grosso do fino".
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